Igreja do Senhor Bom Jesus (Ponta Delgada)

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Reza a história que a atual igreja se ergue no sítio de uma capela mandada edificar, nos primeiros anos do século XVI. Segundo Henrique Henriques de Noronha foi seu edificador o sesmeiro Manoel Affonso de Sanha, “escudeiro do Infante D. Fernando, Pay d’El Rey D. Manoel” que “fez rezidencia nesta parte onde lhe foram dadas de sesmaria muitas terras no ano de 1469, de cuja terça se fez morgado em seus descendentes pelo testamento com que faleceu em 1 de Abril de 1507”.

A capela do Senhor Bom Jesus – uma imagem da estatura de um homem, crucificado – foi “o centro de uma fazenda povoada, formando esta o núcleo primitivo de habitantes que constituiriam a futura paróquia”, o que viria a acontecer em 1577.

Acompanhando o desenvolvimento do lugar, elevado a freguesia em 1552, a primitiva capela sofreu obras ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, tendo-se tornado “num dos mais belos templos do Norte da Ilha” possuindo, segundo Artur Sarmento, “quadros de valor e aturada obra de talha que mais sobressaía na capela do Santíssimo”.

Em 12 de Julho de 1908 um incêndio devorou a igreja, mal poupando “uma imagem do Senhor Jesus, parte da sacristia com alguns paramentos e arquivo paroquial”, conforme é relatado pelo Diário Popular, na sua edição de 14 de julho.
Reconstruída por diligência do Vigário, Padre Casimiro de Abreu, em 1910, a Igreja de Ponta Delgada é “solenemente sagrada em 1919”

CURIOSIDADES:

Lenda do Senhor Bom Jesus

“Em Ponta Delgada da Madeira há uma interessante lenda que o povo conta há muitos e muitos anos.
À roda de 1570 o sesmeiro Manuel Afonso de Sosnha fundou a capela do Senhor Bom Jesus de Ponta Delgada, que por algum tempo serviu de sede de freguesia, enquanto se não ergueu a paroquial, construída m 1636 e aumentada em 1700. Muito alindada e melhorada, o fogo quase totalmente a consumiu num dia de Julho de 1908.
Naquela igreja se expõe à veneração dos fiéis de toda a ilha uma muito antiga e milagreira imagem do Senhor Bom Jesus, que protagoniza a lenda que vamos contar.
E ainda em nossos dias, por via do milagre que lucrou foros, continuam a acorrer ali, aos magotes, gentes de todas as partes da ilha. Mas peguemos na palavra de Henrique Henriques de Noronha, tal como ele diz que ouviu a lenda:
«A imagem do Senhor é de estatura de um homem, crucificado, e a matéria de que se formou é pau, mas tão devota e tão grandemente perfeita que da sua vista se enternecem os corações e se derretem pelos olhos em lágrimas», sendo considerada uma das mais belas imagens religiosas em toda a ilha da Madeira.
Conta «a tradição comum a todos os islenos», ter sido esta relíquia encontrada dentro de uma caixa de madeira dada à costa nos mares do norte, junto da praia de Ponta Delgada, «pelos anos de 1540, em que o reino de Inglaterra padeceu a maior perseguição da Heresia, por Henrique VIII».
Verdade seja o escrúpulo, nota Fernando de Aguiar, de Henriques de Noronha em o levar a notar, não ter descoberto, «contudo, memória alguma, que assim o certifique como também a não achamos em contrário, mas sendo uniforme e constante a tradição, a supomos verdadeira, pela asseveração dos povos, que com viva fé o tem assim recebido».

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